segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha da Semana: Cantiga, de Blexbolex



As resenhas pararam um pouco. O tempo é curto diante das exigências econômicas que temos que lidar, e não recebo um centavo por estas parcas palavras que publico. O bom é que exercito um diálogo agradável, sincero e me permito leituras diversas. Hoje trago um livro classificado de forma habitual como infantil, mas que causa um choque estético em nossos olhos tão pouco acostumados com leituras profundamente sensíveis. O livro ‘Cantiga’, do artista francês Blexbolex, (título no original ‘Romance’) foi lançado este ano pela editora Cosac Naify e traz em si uma narrativa que pouco se esforça para separar imagem de palavra. Sou partidária da ideia que as palavras são espelhos nas mãos dos poetas, e assim se faz no título em questão. Em entrevista ao blog da editora Cosac Naify o artista Blexbolex ressalta: 

‘Pelo o que eu me lembro, as palavras, a linguagem são coisas que sempre me interessaram, na mesma medida que as imagens. As palavras são ideias (e ainda, isso não é completamente verdade) quando as dizemos, mais quando as escrevemos; são também imagens, por sua grafia, seu tamanho e eventualmente suas cores. E as imagens também são ideias porque elas evocam, mostram, contam. Sem dúvida, isso que estou dizendo é muito pouco e confuso. É uma coisa complexa. Para mim, as imagens são uma maneira de colocar em jogo todas essas coisas, com o objetivo de me surpreender, e aos outros também, caso queiram se prestar ao jogo pelo qual eu os convido a participar.’



 A riqueza visual, as cores fortes bem como detalhes como a fonte e a lombada do livro tornam o objeto em questão em algo fascinante. Li ‘Cantiga’ com meu filho, que tem 9 anos e já se interessa pelas leituras da moda (heróis jovens envolvidos com mitologia grega repaginada), e mesmo diante das preferências dele o que fizemos foi uma leitura emocionante, visto que ficamos igualmente conectados com a beleza da obra. Ler em voz alta, na sensação do ritmo das palavras e das imagens descortinadas, desenhar e escrever junto ao artista. Blexbolex vem de uma trajetória envolvida em beleza: foi premiado na Feira do Livro de Leipzig, Alemanha, com a distinção de 'Livro mais bonito do mundo', por sua obra L'imagier des gens (Pessoas, 2008). Artista por formação e tipógrafo por profissão, Blexbolex desenvolve a narrativa em 'Cantiga' acrescentando/retirando/modificando elementos capítulo a capítulo. O efeito é um jogo, um desafio prazeroso.

O livro mais bonito do mundo, premiado com esta titulação na Feira do livro de Leipzig.


Há uma certeza semiótica em ‘Cantiga’. A conexão palavrimagem paira numa narrativa única. Não há cisão, não existe imagem nem palavra como textos separados. Para os que se debruçam em estudos estéticos, é uma boa pedida. Aos poetas também. Aos pais que desejam aproximar os filhos de uma consciência estética que vá além de cores metalizadas e personagens fortemente coloridos e sem propósito, o livro ‘Cantiga’ é o caminho. E é um livro lindo. 


Em minha casa ele fica na sala. Bem no meio dela.

Cantiga, de Blexbolex. Cosac Naify, 280 páginas.

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